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Amigo Aluno, 

Esta seção intitulada “Pós-abolição” procura discutir e refletir sobre a exclusão dos negros (escravos ou ex-escravos) na história social do trabalho. Sabemos, por meio de séries televisivas, novelas e até mesmo livros didáticos, que os trabalhadores do século XX são normalmente representados como imigrantes de origem européia.  Criou-se então, uma espécie de segmentação desses estudos, no qual a situação de escravidão seria restrita aos negros, enquanto o assalariado livre seria concretizado, apenas, pela vinda dos imigrantes europeus.

A partir do estudo do tópico intitulado “Escravidão urbana”, bem como das discussões em sala de aula, podemos verificar que as experiências de trabalho entre livres e escravizados foram muitas vezes compartilhadas. Os ofícios urbanos, como a venda de “fazendas” nas ruas da cidade do Rio de Janeiro do século XIX era exercido não apenas por escravas, mas também por homens e mulheres livres. Ao mesmo tempo, as atividades ligadas à produção manufatureira e até mesmo industrial da segunda metade do século XIX foram vivenciadas por diferentes grupos humanos, entre eles homens e mulheres, crianças e adultos e principalmente por escravos, libertos e livres

 

A pergunta que fazemos aqui é: Como estas experiências compartilhadas podem ter influenciado nos movimentos grevistas e de luta por melhores situações no exercício do trabalho nas primeiras décadas de XX?

Cenas da novela "Lado a Lado", 2013. 

Pós- Abolição 

Cena da novela Terra Nostra, 1999.

"A primeira fase da novela tem início em 1904 e a segunda em 1910. O interessante é que a época retratada não serve apenas de pano de fundo, mas, tem forte influência na ficção. Neste período as heroínas Laura e Isabel têm sua amizade fortalecida, à medida que enfrentam cada vez mais desafios, decorrentes da condição de mulheres que lutam para firmar sua independência e manter seus direitos, numa época em que isto não é visto com bons olhos. Embora tenha nascido livre, Isabel é filha de um ex-escravo e desde cedo, teve que aprender a lidar com preconceitos por ser negra, pobre e mulher. Nos capítulos iniciais trabalha como doméstica na casa de uma senhora francesa, que lhe ensinou a língua, e ajuda nas despesas de casa com o salário que ganha. Já Laura é uma moça rica e moderna, pertencente a uma família da antiga aristocracia. Sua mãe, Constância, uma ex-baronesa, saudosa do império e ressentida pelo fim da escravidão, acredita que omelhor para a filha é casar-se e dedicar-se ao lar, abrindo mão de seus sonhos de trabalhar como professora." Por Azevedo e Elias.Disponível em  http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/9o-encontro-2013/artigos/gt-historiografia-da-midia/lado-a-lado-a-historia-do-rio-de-janeiro-e-a-telenovela

 

 

"Lado a Lado"

"Em 1894, o navio Andrea I deixa o porto de Gênova, na Itália, e cruza o Oceano Atlântico transportando centenas de camponeses italianos. Eles fogem da crise econômica no seu país para tentar a sorte no Brasil, que naquele momento precisava de mão de obra para substituir o trabalho escravo nas plantações de café. Entre os imigrantes está o casal Julio (Gianfrancesco Guarnieri) e Ana (Bete Mendes), com a filha, Giuliana. A bordo, Giuliana conhece Matteo, jovem que não tem ninguém no mundo, mas é empreendedor e tem muita esperança de começar uma nova vida. Os dois se apaixonam e é a partir desse romance que começa a história dessa novela que não teve fim." por, Sousa, em http://e10blog.blogspot.com.br/2013/03/novelas-inesqueciveis-terra-nostra-1999.html

"Terra Nostra"

Atividade 1

Nas imagens acima podemos obsevar as cenas de duas novelas. A primeira intitulada "Lado a Lado", exibida no ano de 2013, e a segunda imagem é da novela "Terra Nostra", de 2000.  Também encontramos logo acima dois textos que explicam o contexto em que se desenrolavam as tramas das respectivas novelas.

a) Analisando o material acima,  explique o contexto do pós-Abolição, refletindo sobre o uso do termo "substituição da mão de obra".

b) Compare as duas novelas,  contemplando suas diferenças e especificidades. 

c) Justifique se essas  produções televisivas podem ser utilizadas para compreender o contexto que comprende os último anos do século XIX e primeiras décadas do século XX.  

 

 

 

Greves

Dia ensolarado. O italiano Pascoal se aproxima do brasileiro Justino. Apelidado de "missionário", o italiano usava um desses chapeletes de militante socialista. Com uma pá na mão, o operário — um negro — fez uma pausa no batente para olhar Pascoal nos olhos, ouvindo-o atento. Gesticulando com as mãos, compensando o sotaque carregado, o italiano viera atear fogo: criticou salários, incitou todos a largarem o serviço e a fazer a revolução. "Você, seu Pascoal" — argumentou Justino (também com seu sotaque próprio) — "está perdendo seu tempo. Eu não compreendo a língua estrangeira".

(GOMES; NEGRO. "As greves antes da "grève"; As paralizações do trabalho feitas por escravos no século XIX)

Charge de J. Carlos , publicada na Revista Careta em 1917. 

GREVE NEGRA Com certeza, os motivos das queixas, protesto e negociação dos escravos iam além do ambiente e da lida domésticos. Estudando revoltas e movimentos sociais em Salvador, João Reis revelou uma greve de carregadores em 1857. Em resposta a mudanças legais que interferiram nas relações entre senhor e escravo e na forma de organização do trabalho, o que estava em jogo era uma intensa disputa com o poder público: o controle das práticas e costumes do trabalho urbano de escravos e libertos ao longo do século XIX pela administração municipal. Não por acaso, João Reis a chamou de "greve negra". Centenas de africanos "ao ganho" — a maior parte africanos ocidentais: os "nagôs" — paralisaram por duas semanas o porto e o setor de abastecimento e transporte. Lutavam não por salários nem pelo fim de castigos. Opunham-se a uma legislação que visava controlar sua lida, com dispositivos que interferiam na organização de seus espaços de trabalho — os cantos. Os grevistas se opunham à determinação da Câmara Municipal que exigia o uso de chapas de identificação individual. Estas, com certeza, foram vistas como mais uma estratégia de controle sobre seus costumes, seus valores, suas vidas, seu trabalho. Foram duas semanas de tensões e expectativas, com os senhores inclusive divididos. Amplamente acompanhada pela imprensa, a parede foi marcada pelo recuo das autoridades

(GOMES; NEGRO. "As greves antes da "grève"; As paralizações do trabalho feitas por escravos no século XIX)

PROTAGONISTAS NA LUTA DE TRABALHADORES Se havia greves antes da chegada dos imigrantes, também não foram um fenômeno urbano apenas. Na verdade, não só houve paralisações na área rural como também podiam dar continuidade a lutas anteriores, que prosseguiam sob novas formas — e em novas condições — sem para isso depender da militância de imigrantes europeus. Em Pernambuco (em 1919), mesmo submetidos à mais aguda exploração, os trabalhadores da zona açucareira sustentaram uma greve maciça. Ainda que não existam referências às suas identidades, eram descendentes de escravos e libertos, mestiços e negros. Sobre essa corajosa iniciativa, o jornal Clarté publicou a notícia "O trabalhador agrícola em Pernambuco". Nesta, afirmou que, embora detratado como indolente e estúpido, o trabalhador rural era "o primeiro fator das fortunas dos usineiros". A greve mostrou a força desses trabalhadores sofridos e humilhados. Trabalhavam em farrapos, tinham dívidas com o armazém dos engenhos, sua dieta alimentar era pobre e praticamente não recebiam assistência dos poderes públicos. Queriam jornada de oito horas de trabalho, aumento salarial, reconhecimento sindical e fim de punições. Os usineiros fecharam suas associações à mão armada

Atividade 2

A partir do texto acima exposto de autoria de Flávio Gomes e Antonio Negro fica evidente que não apenas os italianos atuaram nos  movimentos de contestação social e luta por melhores condições de trabalho. A partir disso, explique o contexto em que foi produzida a charge publicada na revista Careta. Ao mesmo tempo, descreva a charge, discriminando os elementos que ela representa.  Por fim, argumente se os autores concordam com a ideia que ela representa. 

 

“[…] o nosso senhor era o capitão da tropa. Um capitão arranjava os trabalhadores e, por isso, recebia 4% da importância paga,mais 400 réis por cabeça e os quebrados. […] Os quebrados […] eram: 60 réis de um, 80 réis de outro […] O trabalhador ganhava 5$980. Os 80 réis ‘morriam’. A Resistência acabou com isso. […] Além disso, era muito comum […] ser um carregador surrado com

chicote de barbante. Não havia apelação, […] malhavam o negro […]. Essa situação, se para alguns era natural, porque a sua infeliz condição de trabalhador de café era um prolongamento do eito, que o 13 de Maio demoliu, para a maioria era uma afronta […] e um desmentido à bondade de

Deus. E Deus inspirou […] esse punhado de […] companheiros que levantaram a Resistência, […] como um braço forte que nos ampara […]. A Resistência deu o grito do novo 13 de Maio” (A Razão, 23 de agosto de 1918).

O trecho ao lado foi retirado de um Jonal do ano de 1918, no qual o jornalista registrou a fala de um dos trabalhadores que estava envolvido nas organizações que defendiam melhores condições de trabalho. Importante salientar que este relato surgiu de um trabalhador envolvido no movimento de tropas, diante diante dos ataques de seus patrões. 

Atividade 3

a) Analisando o trecho do jornal de 1918 explique quais são as queixas do trabalhador. Identifique o significado atribuído ao treze de maio (data da Abolição da Escravatura) em seu relato. 

b) A partir das leituras, analise e compare a charge reproduzida na revista Careta com o trecho do jornal A razão, transcrito acima. Elas convergem na representação do trabalhador negro. Justifique sua resposta.

 

Atividade 4

Produza uma história no qual figurem os personagens e os cenários discutidos ao longo desse estudo. Você deverá imaginar um ambiente urbano ou rural, no qual os trabalhadores lutam por melhores condições de vida. Também devem ser contemplados a convivência entre trabalhadores imigrantes e locais, brancos e negros. 

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