Da tua mão nasce uma flor:
Mundos do trabalho da população africana e afrodescendente no brasil
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AGRADECEMOS SUA COLABORAÇÃO E DICAS!
Somos todos operários em construção?
Refletindo sobre a importância e protagonismo dos trabalhadores, leia a letra da música de Vinicius de Morais. Umas das temáticas da obra diz respeito ao conceito de "Alienação".
Pesquise o seu significado e reflita sobre a importância das ideologias no mundo do trabalho.
Você acha que os trabalhadores atualmente adotam a mesma postura que o personagem do poema?
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.
Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
( Continua...)
Disponível em http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/o-operario-em-construcao
Para ler ....
A escravidão no Rio de Janeiro do século XIX atravessou duas conjunturas bastante distintas que corresponderam exatamente às duas metades do século: uma primeira conjuntura de pleno desenvolvimento do cativeiro e de crescimento contínuo da população escrava da cidade, que perdurou até 1850, quando o tráfico negreiro africano foi definitivamente abolido; e uma segunda conjuntura de gradual declínio daquela instituição e redução da população escrava da cidade, que se encerraria com a Lei Áurea de 1888.
O mundo negro. Relações raciais e a constituição do Movimento Negro contemporâneo no Brasil
De Amilcar Araujo Pereira
O movimento negro contemporâneo, a partir da década de 1970, tem crescido, se transformado, diversificado suas formas de atuação e também tem obtido algumas importantes conquistas. Como movimento social e como parte do processo de contestação e modernização que caracterizaram os últimos anos da ditadura militar, foi que o movimento negro brasileiro contemporâneo se organizou.
Este movimento tem contribuído de maneira fundamental para dar visibilidade a sujeitos que fazem parte da história do Brasil e que até bem pouco tempo eram “invisíveis” para a nossa sociedade.
A VIDA DOS ESCRAVOS NO RIO DE JANEIRO (1808-1850)
Mary C. Karasch
a primeira metade do século XIX, o Rio de Janeiro tinha a maior população escrava urbana das Américas; seus visitantes ficavam impressionados com a cor "negra" da cidade. Ao estudar a vida dos escravos durante esse período, este livro estabelece um marco na historiografia brasileira. Utilizando documentos inéditos e múltiplas fontes de informação, Mary C. Karasch desfez mitos e revelou em toda a sua amplitude o fardo da servidão, mesmo no ambiente "civilizado" da capital do Império brasileiro.